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Meu pequeno príncipe

DE SURPRESA, O TERCEIRO FILHO CHEGOU PARA FLÁVIA COSTA TRAZENDO DESAFIOS E UMA NOVA FORMA DE ENXERGAR A VIDA

A funcionária pública Flávia Costa já era mãe de Fernanda, 23 anos e de Guilherme, 12, e para ela e o marido, a fábrica de filhos já tinha encerrado. Porém, aos 37 anos, após passar mal e sentir muito enjoo, surpresa, descobriu através de exames que estava grávida. E é ela quem vai contar para a OLHAÍ a sua história com Théo, o filho que chegou para mudar a sua vida.

NO VENTRE DA MÃE, BATE UM CORAÇÃO

“Quando me descobri grávida, fiquei um pouco apreensiva, afinal eu não tinha vontade de ter mais um filho, porém aconteceu e eu costumo dizer que o Théo foi totalmente a vontade de Deus, ele escolheu o momento certo e a família certa. Na verdade, foi o Théo quem me escolheu...

Tive um hematoma subcoriônico no início da gestação que logo melhorou e a gestação seguiu tranquila, sem qualquer intercorrência de saúde. No entanto, após um ultrassom, com apenas 34 semanas de gestação, fui trabalhar normalmente e senti que o Théo estaria prestes a chegar. Na madrugada do dia seguinte, a minha bolsa rompeu e ficamos preocupados, afinal eu ainda não havia entrado nem no oitavo mês. O médico achou prudente irmos para BH e lá, ainda pela manhã, no dia 18 de outubro de 2019, nasceu prematuramente o meu menino. Apreensiva, eu só pedia a Deus para que ele chorasse ao nascer e que não precisasse ser entubado. E Ele atendeu, pois o Théo mostrou ser forte, respirou sozinho e chorou muito. Com 2,690 quilos, precisou ficar internado apenas seis dias por conta de uma icterícia. Ufa!”

Fiz em média oito ultrassons durante toda gestação, todos normais e nenhum acusou a Síndrome de Down. Mas dois dias após o nascimento do Théo, o médico do berçário me pediu para ver o exame de Translucência Nucal - o exame que faz com 12 semanas de gestação para ver se o bebê tem alguma má formação. Eu o questionei e ele achava que o Théo poderia ter Síndrome de Down. Ali, o meu mundo parou, perdi completamente o chão, mas mostrei os exames que o médico, após análise, disse não ter nenhuma alteração. Precavido, me indicou a realizar o cariótipo para descartar qualquer possibilidade. Então, após a alta, levei o Théo no pediatra que foi categórico em afirmar que ele não tinha a Síndrome. Mas algo me dizia o contrário...

Até o resultado do cariótipo sair, foram 30 dias de muita angústia e ansiedade, mesmo o pediatra dizendo que eu poderia ficar despreocupada. E chegou o dia D. Meu marido Maykon resolveu pegar o exame e quando chegou em casa, na hora do almoço, eu já o esperava com o Théo no colo pra saber qual era o resultado que definiria não apenas o futuro do meu filho, como o meu e o da minha família. Então ele me deu a notícia mais difícil da minha vida e naquele momento não tive forças pra continuar com o Théo nos braços. Confesso que chorei muito, sofri demais e os dias seguintes foram difíceis. Eu só me preocupava como seria o futuro do meu filho em um mundo ainda cheio de preconceitos. Como ficaria ele quando eu não estivesse mais por aqui? Enfim, eu só pensava o pior.

Eu dizia para a minha filha: ‘o que eu vou fazer? Seu irmão tem Síndrome de Down’, e ela respondeu: ‘ele sente dor? Ele está doente?’. Eu disse que não e então ela me disse, ‘por que sua preocupação? Você está sofrendo por ele ou por você não ter um filho típico?’. Pronto. Desde esse dia, eu comecei a pensar o quão saudável e feliz era o meu filho. Não havia motivos para sofrer. Ele vai fazer tudo que outras crianças fazem, porém no tempo dele. Daí por diante, eu comecei a ver o Théo além de um diagnóstico. Vi que o meu filho era lindo, esperto e amável, e que o futuro dele eu não poderia controlar. O que eu posso é dar todas as oportunidades para ele se desenvolver da melhor maneira possível e o restante é com ele”.

NÃO SEI SE O MUNDO É BÃO, MAS ELE FICOU MELHOR QUANDO VOCÊ CHEGOU

“Depois do resultado do cariótipo fui do luto à luta. Sofri, mas por pouco tempo, levantei a cabeça, enxuguei as lágrimas e fui lutar pelo meu filho. Comecei a ler a respeito, conversei com algumas mães que tinham filhos especiais e procurei todos os profissionais que ele precisaria dali pra frente. Com dois meses de vida, Théo começou a frequentar fisioterapeuta, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional entre outros médicos que ele precisaria para acompanhar a sua saúde. Hoje, além de todas essas terapias diárias, ele também faz hidroterapia e recebe vários estímulos dentro de casa. Em seu tempo livre, ele brinca, participa das nossas rotinas e é sempre incluído em tudo, só não passeamos muito por causa da pandemia. A rotina dele é muito parecida com a de qualquer outra criança da idade dele, o que diferencia são as terapias.

O Théo é muito esperto e inteligente, mas também faz pirraça, sabe o que quer e também o que não quer. Ele é muito feliz e parece que entende tudo ao seu redor. Posso afirmar que ele transformou as nossas vidas, além de nos mostrar que devemos viver um dia de cada vez e, que devemos comemorar cada pequena conquista, por menor que ela seja. E nessa empreitada, tenho o apoio irrestrito do meu marido, filhos e, também, da Amanda, a madrinha dele que esteve conosco desde o início e é uma segunda mãe, pois sofre e comemora com a gente todas as vitórias do nosso príncipe.

Muito adepta das redes sociais, Fernanda, a minha filha mais velha, teve a ideia de criar um perfil de Instagram do irmão. Inicialmente eu não achei interessante, mas ela acabou me convencendo que seria legal dividir a nossa história com outras famílias. A nossa intenção nunca foi fama, nosso interesse era mostrar para outras mães que têm filhos especiais que eles também podem fazer qualquer coisa. Antigamente algumas pessoas ainda escondiam seus filhos com Síndrome de Down ou com algum tipo de deficiência, por medo, vergonha, enfim não sei exatamente, mas hoje isso mudou, e acho que precisa mudar ainda mais. Os nossos filhos são como qualquer outra criança, que com amor, persistência e carinho desenvolverão e, terão uma vida normal. Eu acredito que quanto mais eficiente for a inclusão, melhor será o futuro deles.

Em pouco tempo o perfil do Théo começou a ter bastante engajamento e ficamos bastante surpresos com a receptividade do público. Até que um dia, a Agência Vogue mandou mensagem falando que uma equipe estaria em Minas e que o perfil do Théo era muito interessante. Nos convidaram para um book e eu aceitei. Além de agenciado, ele é modelo mirim da Matos Infantil, garoto propaganda da Snack e Cia e já fez propagandas pra SP Flower Boutique, Amar e Amar semi joias e Madame Gourmet. Também já saiu em duas matérias para o jornal Correio de Minas, em outdoor na cidade e, em breve, teremos outros projetos”.

PORQUE VOCÊ CHEGOU E EXPLICOU O MUNDO PRA MIM

Théo é uma criança muito amada e abençoada. Do fundo do meu coração, eu desejo para o futuro do meu filho saúde, felicidade e um mundo com mais amor e respeito ao próximo. Quero que ele possa ter autonomia, que ele saiba diferenciar o certo do errado, saiba respeitar todos ao redor dele e exija respeito sempre. Que entenda que ser diferente é normal, que isso não faz dele nem menos e nem mais que ninguém, quero que ele sinta orgulho de quem ele é que nunca deixe que ninguém o faça acreditar em algo diferente disso. Quero que meu filho seja forte, determinado e faça aquilo que ele gostar na vida.

E pra finalizar, um recado para as mães que estão passando pela mesma situação que eu passei: receber a notícia que o seu filho tem algum tipo de deficiência não é fácil. Sentimos medos e angústia, afinal o desconhecido assusta. Temos medo pelo futuro deles e de não darmos conta – o que é compreensível. Mas eu digo com todo meu coração que o amor que sentimos por eles é maior que tudo isso. É difícil, mas quando ganhamos um filho especial, ganhamos também uma compreensão diferente do mundo e começamos a entender que cada dia é único. Comemoramos cada conquista do nosso filho, por menor que seja, como se fosse um prêmio da loteria. Então ao mesmo tempo que é difícil, é gratificante. E que aquela dor inicial vai passar e abrir lugar para uma vida de lutas, mas também de vitórias. Nossos filhos são bênçãos de Deus e eu não mudaria nada no meu Théo - ele é único. Eu sempre digo que Deus esculpiu ele nos mínimos detalhes para mim. Ele é o presente que nunca imaginei ganhar, mas que agradeço todos os dias por tê-lo ganhado. Ele trouxe sabedoria, paciência, gratidão e muita paz para minha vida”.

TRECHOS DAS MÚSICAS ‘CLAREANA’, JOYCE E ‘ESPATÓDEA’, NANDO REIS